Marcelo Rubens Paiva
“Um livro emocionante
sem ser piegas, crítico e irônico sem ser inocuamente agressivo. E mostra que,
apesar de tudo, Marcelo não perdeu a paixão pela vida.
Paixão que lhe permite
fazer boa literatura.” — Veja
“Marcelo, aos invasores,
opõe sua juventude, sua mente sadia. Escreve. Luta. Politizado. Não se entrega,
não odeia. Compreende.
Sacudiu a poeira, deu a volta por cima.” — Folha de S. Paulo
“Desde que Françoise
Sagan cumprimentou suas inquietações adolescentes que um primeiro livro não
causava o impacto de Feliz Ano Velho” — O Estado de S. Paulo
“Paiva revela seu pique
e agarra o leitor, prendendo-o numa leitura capaz de varar a madrugada, e passa
a ser cantado pelo público, com expectativas e cobraças de quero mais.” —
Jornal da Tarde
“A tragédia e o humor,
duas maneiras de ver o mundo em uma maravilhosa obra brasileira.” — Lá
Nácion
“Devemos aplaudir este
jovem e talentoso escritor, que prova a capacidade de renovação da literatura
latino-americana.” — Die Zeit
Um jovem paulista de
classe media alta, muitas namoradas, estudante de Engenharia Agrícola na
Unicamp vê sua vida se transformar num pesadelo em questão de segundos. Durante
um passeio com um grupo de amigos, Marcelo, de farra, resolve dar um mergulho
no lago, em estilo Tio Patinhas. Meio metro de profundidade. Uma vértebra
quebrada. O corpo não responde. Começa ali, naquele mergulho, a história de
Feliz Ano Velho, um relato verdadeiro do acidente que deixou o escritor Marcelo
Rubens Paiva tetraplégico, a poucos dias do natal de 1979.
O autor confere à
narrativa a mesma energia e o mesmo fôlego com que transpôs a armadilha do
destino. Imóvel numa cama, Marcelo, o personagem, dá asas às lembranças e à
imaginação. Foram 12 meses de uma recuperação lenta e dolorosa: dias e noites
intermináveis numa UTI (a “antessala do céu ou do inferno”), o colete de ferro,
a descoberta de que teria como extensão do seu corpo uma cadeira de rodas, os
momentos em que chegou a pensar em suicídio.
Marcelo, o narrador, se
encarrega de colocar em palavras a relação de amor e respeito à mãe, o carinho
das irmãs, a camaradagem e o encorajamento da turma, as festas e as fantasias
sexuais. O acidente no lago seria o segundo tranco na vida do garoto. O
primeiro foi aos 11 anos: o “desaparecimento” do pai — o ex-deputado federal
Rubens Paiva — pela ditadura militar. Um despertar violento da consciência
política.
Apesar do tema trágico,
o livro — que se tornou uma referência na literatura brasileira contemporânea —
explode de humor, ternura e erotismo. O texto expressa a irreverência e a
determinação da juventude, mesmo na adversidade. E a compreensão precoce “de
que o futuro é uma quantidade infinita de incertezas”.
Marcelo Rubens Paiva
“Eu era uma das crianças
mais felizes do mundo. Porém, a cortina se abriu e começou o segundo ato do
espetáculo, que até então era uma farsa, mas se revelou uma tragédia. Meu pai
desapareceu em 1971, no mesmo ano em que morreu meu tio mais velho, Carlos. Meu
avô morreu dois anos depois. De enfarto. De tristeza. Logo depois, outro tio
morreu num acidente de carro na estrada que ligava a fazenda a São Paulo. Um
terremoto abriu uma fenda. O sentido de tudo se modificou. Perguntamos o que
alimentou uma vingança tão caprichada e cruel. O que fez os deuses da
felicidade se voltarem contra nós. Morreu uma prima, a mais animada, que não
tinha nem dezoito anos, de uma doença misteriosa. Depois outro primo, um menino
lindo, num acidente de moto em Santos. A tragédia dos Paiva foi um contraste
com a alegria das décadas anteriores. A família ruiu: não tinha estrutura
emocional para administrar tudo aquilo.”
Verão de 1971. Eunice
Paiva, recentemente liberada de um período de prisão e interrogatório durante
doze dias no DOI-Codi, no Rio de Janeiro, passa alguns dias com amigos em
Búzios. Segundo Antonio Callado, respirava aliviada; o próprio ministro da
Justiça havia lhe garantido que seu marido, Rubens Beyrodt Paiva, “já tinha
sido interrogado, passava bem e dentro de uns dois dias estaria de volta a sua
casa”. Rubens Paiva, no entanto, capturado em sua própria casa por homens da
aeronáutica em 20 janeiro de 1971, foi torturado, morto e seu corpo nunca mais
foi encontrado. “A cara de Eunice”, escreve Callado, “continuou molhada e
salgada durante muito tempo, tal como naquela manhã de Búzios. A água é que não
era mais do mar.”
Neste livro, Marcelo
Rubens Paiva faz um retrato emocionante da mãe Eunice e, pela primeira vez,
traça uma história dramática do que ocorreu — e do que pode ter ocorrido — com
Rubens Paiva. “Meu pai, um dos homens mais simpáticos e risonhos que Callado
conheceu, morria por decreto, graças à Lei dos Desaparecidos, 25 anos depois de
ter morrido por tortura”, narra ele, neste livro magistral. Eunice “ergueu o
atestado de óbito para a imprensa, como um troféu. Foi naquele momento que
descobri: ali estava a verdadeira heroína da família; sobre ela que nós,
escritores, deveríamos escrever”.
Eunice Paiva é uma
mulher de muitas vidas. Mãe de cinco filhos, viu-se obrigada a criá-los
sozinhos quando, em janeiro de 1971, Rubens Paiva foi preso por agentes da
ditadura. Em meio à dor e às incertezas, ela se reinventou. Voltou a estudar,
tornou-se advogada, defensora dos direitos indígenas, militante na luta pelos
direitos humanos. Criou os cinco filhos. Nunca chorou na frente das câmeras.
“Foi a minha mãe quem ditou o tom, ela quem nos ensinou”, escreve Marcelo
Rubens Paiva, nesse relato emocionante sobre memória, perda e a volta por cima.
Ao falar de Eunice, e de
sua última luta, desta vez contra o Alzheimer, ele fala também da memória, da
infância e do filho. E mergulha num momento negro da história recente
brasileira para, pela primeira vez, contar — e tentar entender — o que de fato
ocorreu com Rubens Paiva, seu pai, naquele janeiro de 1971
Sobre o autor:
Marcelo Rubens Paiva nasceu em maio de 1959. É escritor,
dramaturgo e jornalista. Seu primeiro livro, Feliz ano velho, foi publicado em 1982. A seguir, lançou, entre outros,
os romances Blecaute (1986), Não és tu, Brasil (1996), Malu de bicicleta
(2004), A segunda vez que te conheci (2008) e, mais recentemente, o infantil 1
drible, 2 dribles, 3 dribles: Manual do pequeno craque cidadão (2014). É
colunista do jornal O Estado de S. Paulo e mora atualmente em São Paulo, com a
mulher e um filho.
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